quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Grande reportagem - Os tratadores


(clique na imagem para ver a reportagem)

Esta reportagem foi realizada pela SIC Noticias, e retrata alguns exemplos de casos reais em Portugal que usufruem de terapias assistidas por animais, em diversos contextos que iremos apresentar de seguida. 

Terapia Assistida por Cães
1ª Caso
Tiago é um menino do 3º ano com dislexia, que apresentava dificuldades na leitura, encontrando-se ao nível de uma criança de 1º ano nesse aspeto. O projeto piloto “Ler Cãofiante” (2013) foi aplicado na sua turma, na Escola EB 1 de Silves.

Este projeto utiliza o Momo, um cão, como mediador da terapia, em que a sua tarefa é ouvir as crianças a ler.

Tiago conta que gosta de ler para o Momo porque este o acalma, não reclama quando a sua leitura não é correta, apenas vira a cabeça (algumas vezes), e a sua atitude é diferente da dos adultos em geral, ficando o Momo atento ao que ele está a dizer. Quando o Momo fica atento, dá-me mais coragem para eu ler “refere o menino.

Este menino fez uma progressão constante com esta terapia, tendo iniciado com uma postura de frustração, baixa autoestima e medo de se expor devido à sua problemática. Este projeto fez disparar os índices e desejos de leitura das crianças que usufruíram da presença do Momo, no caso particular do Tiago, este passou a desejar ler em público por iniciativa própria e obteve uma cotação de 65% no exame nacional de 4º ano.

2º Caso
Lucas, um adolescente de 17 anos com problemas de comportamento, participou no Projeto “Cãopetências para a vida” que decorreu no seu estabelecimento de ensino, a Escola EB2/3 João de Deus.

Este projeto foi apoiado pela Câmara Municipal de Silves e consiste no treino e comando do cão por parte dos adolescentes com supervisão da terapeuta.

O Lucas refere que anteriormente era uma pessoa agressiva, bruta e que não sabia conversar com os outros, e confessou que ao inicio não acreditava que a terapia pudesse resultar, no entanto o facto de não poder “falar mal” com o cão, visto que este poderia ficar agressivo para consigo, fez com que ficasse progressivamente mais calmo, que tivesse consciência da mudança que estava a ocorrer consigo e refere que atualmente se houver algum conflito, já pensa antes de agir, evitando partir para a agressividade.

A terapeuta mencionou que o Lucas nunca faltou à terapia, justificando que era uma atividade em que ele tinha prazer e interesse e onde se sentia bem com os cães porque estes não o julgavam, não o criticavam e transmitiam-lhe prazer e tranquilidade, motivando assim os adolescentes a participar na terapia.

3º Caso
Esta reportagem mostra-nos ainda benefícios da terapia com cães em reclusos de estabelecimentos prisionais, podendo estas alterações ser observadas durante a terapia e no dia-a-dia do individuo nos diversos contextos.

4º Caso
O Pedro é um adulto com autismo que usufrui de terapia assistida por animais. Inicialmente a sua participação era retraída e distante, tendo-se começado a aproximar progressivamente. Esta terapia com a cadela Pipa, promoveu o seu desenvolvimento social, ao nível do olhar para o outro e da comunicação com o outro, característico da sua patologia.

5ª Caso
Quintino, idoso com stress pós traumático tem terapia com a Surya, uma cadela, no Hospital Psiquiátrico do Centro hospitalar Conde de Ferreira onde está internado. É uma pessoa que se isola, que reage pouco a estímulos externos, deambula pelo espaço, se apresenta depressivo e não comunica verbalmente.

Na primeira sessão com a Surya e os terapeutas, o Quintino verbalizou e referiu recordações dos animais que tinha antigamente, no entanto quando é solicitada comunicação com os terapeutas, este não o faz, apenas interage com o animal, tanto espontaneamente como quando solicitado.

No mesmo centro hospitalar, foi implementado em 2012, um projeto piloto na enfermaria feminina com terapia assistida por cães para as pessoas com esquizofrenia. Neste projeto foram estabelecidos objetivos tanto individuais como gerais, tendo sido atingidos com a intervenção, e muitas vezes superiores aos que se esperava, pelo que posteriormente este projeto foi alargado a todo o centro hospitalar.

“É uma terapia de que eu gosto tanto, porque ao menos estou distraída” refere Patrícia, uma utente desta terapia que começou a perceber que a agressividade não era o melhor modo de resolver os problemas.


Com estes testemunhos podemos observar que esta terapia beneficia os indivíduos na medida em que:
  •  Aumenta o prazer e o bem-estar;
  •  Aumento da empatia;
  • Aumento da autoestima;
  • Promove a resistência à frustração e à agressividade;
  • Visa combater o isolamento;
  •  Abranda o ritmo cardíaco e respiratório;
  • Reduz a pressão arterial e o nível de stress das crianças;
  •          O cão proporciona à criança o toque essencial à relação;
  • Promove a redução de conflitos entre pares, e no caso dos reclusos entre estes e para com os profissionais;
  • Promove o desenvolvimento social e da linguagem;
  • Ajuda para os professores que não sabem lidar com os alunos.
É ainda de salientar que os munícipes do conselho de cascais têm acesso gratuito a terapias assistidas por cães (Pi) no Espaço S, com uma equipa multidisciplinar.

Terapia Assistida por Cavalos
Caso
Mariana é uma adulta de 32 anos, dependente de drogas, que optou por utilizar a terapia assistida por equinos como uma possibilidade de intervenção.

O foco deste tipo de intervenção é a área da saúde mental, das problemáticas de comportamentos, intervindo na família.

Nathalie Durel estudou o comportamento do cavalo perante as variadas reações das pessoas, utilizando o seu estudo no seu trabalho como terapeuta. Através deste método, o cavalo ajuda o individuo a ir percebendo o que se passa consigo, e ao próprio terapeuta qual a genuidade da instrução do cliente, possibilitando a chegada mais rápida e facilitada das conclusões.

Inicialmente a Mariana apresentava um estado depressivo, sem esperança e credibilidade. A Mariana referiu que se a terapia fosse realizada apenas pela técnica, ela poderia manipular o discurso, não sendo verdadeira. Com a égua, não o consegue fazer porque os cavalos sentem o que nós sentimos, o que faz com que necessitemos de ser genuínos, pois ele reagirá de acordo com o que lhe transmitirmos.

O contacto com Samara, a égua, permitiu à Mariana ganhar confiança, perceber o que ia mudando dentro de si, a importância da mudança e necessidade da disposição total para o fazer, tendo melhorado a sua qualidade de vida e modo de pensar.

REFLEXÃO
A presente reportagem despertou-nos imenso interesse, permitiu-nos observar o investimento cada vez maior nas terapias assistidas por animais em diversos contextos, desde estabelecimentos de ensino, hospitais psiquiátricos e estabelecimentos prisionais. Esta é uma forma de intervenção que acima de tudo motiva os indivíduos a participar na terapia de um modo mais lúdico, não requerendo tanto o pensamento de que se está numa terapia porque tem alguma problemática, e essa motivação e interesse é notável nos testemunhos apresentados pelas diferentes pessoas.

Para nós, é surpreendente ver o que os animais, em conjunto com os técnicos das diferentes áreas, conseguem desenvolver junto das pessoas com as mais variadas necessidades, como é que a simples adição do animal à terapia pode melhorar tanto e mais rapidamente a qualidade de vida de cada um dos casos apresentados, além de que as pessoas quando questionadas, reconhecem que isso foi benéfico para si, referindo muitas das vezes, que provavelmente se o animal, seja o cão ou o cavalo como são os presentes exemplos, não estivesse presente e ao seu lado neste caminho, não o teriam continuado ou não teria o mesmo impacto.

Deste modo, enfatizamos cada vez mais a evolução e o reconhecimento dos animais como co-terapeutas dos técnicos. O facto de estar presente um animal na terapia, já faz com que o cliente esteja mais disponível para a participação porque o animal não o irá julgar, criticar ou humilhar, e isso transmite ao utente uma maior segurança e pré disposição para a atividade. A presença de um elemento distráctil e mais lúdico na intervenção além do terapeuta, permite ainda ao individuo não ter que encarar de forma tão direta a sua problemática, mantendo o foco maioritariamente nos seus progressos e pontos fortes que vão sendo observados e não tanto no problema em si, como estão habituados e cansados que o seja pela sociedade em geral.

Concluindo, os animais “obrigam-nos” a ser genuínos e a pensar antes de agirmos, mudando assim o nosso modo de pensar e os nosso comportamentos, pois eles têm uma perceção diferente e mais sensível às atitudes das pessoas, não falam verbalmente como os humanos, mas iram reagir e despoletar emoções em nós próprios de acordo com a ação que tivermos para com ele, e aos poucos, com o seu amor relacional para connosco, vão melhorando a nossa vida, os nossos pontos fracos e as nossas capacidades.

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