quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Ethical Issues and Questions about Therapy Effectiveness

Este capítulo pertence ao livro Animal-Assisted Therapy de Donald Altschiller, publicado em 2011. Seguidamente iremos apresentar o seu resumo e, de seguida, uma reflexão sobre o mesmo.

Este capítulo faz ênfase aos problemas éticos associados às Terapias Assistidas por Animais (TAA), não só relativamente aos resultados do contacto entre a pessoa e o animal, mas também relativamente ao modo como este tipo de terapia pode trazer consequências negativas para estes seres vivos.

O autor refere que a questão mais controversa dentro desta temática, é o modo como os animais são tratados durante a realização destas terapias. Sendo assim, o enfoque do capítulo não será apenas contestar o modo como é feita a avaliação nas TAA, mas também as preocupações relativamente ao modo como os cães que fazem visitas a instituições são tratados e, mais especificamente, é abordada a controvérsia sobre a utilização de golfinhos em âmbito terapêutico.

Quanto à avaliação nas TAA, existe uma quantidade relativa de literatura que refere que este tipo de terapia tem efeitos benéficos não só em termos fisiológicos mas também psicológicos, no entanto, têm vindo a ser levantadas algumas questões quanto a este facto.

Beck e Katcher (2003) referem que as práticas desenvolvidas nas TAA não apresentam objetivos que permitem uma orientação e, mesmo quando os objetivos são devidamente identificados, o modo de avaliação não está bem esclarecido. O autor do livro refere que este ceticismo pode estar associado ao facto de grande parte dos estudos realizados neste âmbito apenas demonstram os efeitos a curto-prazo. Por outro lado, outros autores levantam a questão de não se ter em conta o companheirismo animal, no entanto, mesmo os estudos que têm em consideração este fator levantam dúvidas a alguns profissionais de saúde.

Neste sentido, dois investigadores analisaram os estudos realizados no âmbito da interação homem-animal e conseguiram concluir que é bastante comum encontrar conclusões precipitadas relativamente à eficácia destes programas terapêuticos quando o tipo de intervenção não foi de qualquer forma avaliado. Para além disso, os investigadores encontraram também por diversas vezes conclusões generalizadas. Por outro lado, vários autores têm citado uma grande quantidade de estudos qualitativos que demonstram que as TAA são efetivamente benéficas, não existindo assim um consenso relativamente a esta temática.

Entrando na temática do modo como os animais são tratados, o autor do livro não faz apenas referência às TAA mas também às Atividades Assistidas por Animais (AAA). Um dos aspetos mais referidos dentro destes programas, é o modo como estes podem induzir stress nos animais levando a certas respostas tais como tremores, espasmos musculares e produção excessiva de saliva, sendo bastante importante o terapeuta ter conhecimento destes tipos de respostas.

Especificando para a questão dos cães que realizam visitas a instituições, o autor refere que o seu bem-estar irá depender muito do ambiente institucional e do conhecimento e experiência que o seu dono (e.g.: terapeuta) tem. Alguns terapeutas referem que as visitas a instituições devem demorar no máximo uma hora, no entanto, não existe um consenso quanto ao tempo necessário para que a visita seja produtiva para a pessoa institucionalizada. Este é um fator que pode levar ao stress do animal, algo que muitas vezes não é percecionado pelo terapeuta, fazendo assim com que a intervenção seja apenas benéfica para a pessoa.

O facto de as pessoas que vivem em instituições poderem magoar os cães é também algo a ter em atenção. Os cães que trabalham com pessoas com deficiência motora podem sofrer lesões físicas devido ao trabalho que necessitam de desenvolver com estes (e.g.: ajudar o cliente a levantar ou sentar, empurrar uma cadeira de rodas, etc.).

Apesar de os cães serem os animais mais predominantemente usados neste contexto, em alguns casos são também utilizados gatos e pássaros, os quais pedem cuidados redobrados devido ao facto de serem mais pequenos e, consequentemente, mais frágeis. O transporte do animal para o local, é também uma situação bastante geradora de stress que deve ser tida em consideração. Igualmente, em alguns locais são utilizados macacos, nomeadamente para auxiliar pessoas com deficiência motora. Neste caso, já foram reportadas bastantes situações em que os dentes dos animais foram removidos ou em que estes recebiam constantes choques elétricos de forma a não se tornarem agressivos para com os clientes usufruidores da terapias.

O autor refere ainda que apesar de se acreditar que as TAA e as AAA são benéficas tanto para a pessoa como para o animal, o que é certo é que grande parte dos animais não corresponde ao que é desejado durante o treino necessário para poderem participar neste tipo de terapia/atividades.

Por último, geralmente nas TAA são utilizados animais de raça (e.g.: golden retrivier) devido ao facto de apresentarem características que lhes permitem estar mais facilmente em contacto com outras pessoas. No entanto, isto levanta questões éticas relativamente à procriação uma vez que procriar dentro da mesma geração leva a problemas físicos, psicológicos e a uma maior incidência de doenças nos animais.

Quanto à delfinoterapia, vários estudos têm referido os seus efeitos benéficos em indivíduos com autismo ou com dificuldades intelectuais. No entanto, esta é uma terapia que se tem demonstrado nada benéfica para os golfinhos. O facto de estes estarem confinados a um tanque, despertou em muitos casos comportamentos de agressividades e o facto de este ser um espaço bastante reduzido, promover também uma grande variedade de infeções bacterianas. Este espaço leva ainda a que os golfinhos percam as capacidades necessárias para navegarem nas águas. Para além disso, uma autora ao analisar diferentes estudos conseguiu perceber que a delfinoterapia não é mais eficaz no processo de aprendizagem ou no desenvolvimento socioemocional das crianças, em comparação com qualquer outra terapia.

Concluindo, a delfinoterapia apresenta efeitos negativos não só para os animais mas também para as pessoas, efeitos estes que são difíceis de ultrapassar.

REFLEXÃO
Relativamente à questão da avaliação nas TAA, consideramos que esta foi pertinente uma vez que este é um assunto que não foi abordado na disciplina (exceptuando para a Equitação com Fins Terapêuticos). Sendo a avaliação uma componente importante no âmbito da Psicomotricidade, torna-se igualmente importante perceber um pouco mais o modo como esta se processa neste tipo de terapias uma vez que estas podem ser utilizadas de forma complementar à terapia psicomotora.

Quanto a este assunto, a ideia que ficou foi a de que muitas vezes esta terapia não apresenta objetivos e, quando os apresenta, o modo como a avaliação é feita não está claro. Tendo em conta que os objetivos são uma componente essencial de qualquer intervenção pois permitem definir a intencionalidade terapêutica, achamos que nesta terapia isto é algo que deveria sempre ocorrer, sendo estes definidos de acordo com a pessoa e também de acordo com o animal a ser utilizado.

Relativamente aos efeitos das TAA, na aula foram apresentados diversos benefícios nas mais variadas populações (e.g.: depressão, crianças e adolescentes com PEA, gerontes, etc.) e com base em diversos estudos, indo assim ao encontro do que é referido no capítulo de que grande parte dos estudos apresentam resultados positivos quanto à implementação das TAA.

Considerámos este capítulo particularmente interessante devido ao facto de abordar as questões éticas associadas ao tratamento dos animais utilizados nas TAA. Tal como referido nas aulas sobre esta temática, o terapeuta não se deve preocupar unicamente com o bem-estar do cliente e com a promoção da sua funcionalidade e independência, sendo assim necessário ter também em conta o bem-estar do animal uma vez que este tem de ser um processo prazeroso para ambos.

Deste modo, analisando o capítulo, é possível perceber que o terapeuta durante as sessões deve analisar os comportamentos do animal, com o intuito de perceber se aquela é uma situação que lhe estará a aumentar os níveis de stress. Se for o caso, pensamos que talvez seja preferível afastar o animal do local e permitir que este faça algo que lhe permita sentir-se melhor (e.g.: passear, brincar, etc.), podendo este posteriormente voltar para o local. Se as respostas de stress persistirem, poderá ser melhor o terapeuta optar por escolher outro animal que se adapte melhor ao contexto da sessão, algo que também foi referido durante as aulas da disciplina.

Este artigo tocou ainda outro ponto interessante, nomeadamente o facto de neste tipo de terapias serem utilizados maioritariamente animais de raça. De acordo com o que aprendemos na aula sobre esta temática, a ideia de que os animais de raça são os únicos adequados para esta prática está errada, uma vez que, por exemplo, um cão rafeiro pode ser tão bom coterapeuta quanto um cão golden retrivier. De facto esta raça apresenta características próprias que fazem com estes animais sejam mais sociáveis, no entanto, desde que o cão rafeiro apresente essas mesmas características, este pode ser utilizado neste tipo de terapias. Este foi um aspeto que também já referido anteriormente (no post sobre as TAA) e que nós achamos pertinente salientar, uma vez que os cães rafeiros são muitas vezes excluídos e menos desejados por não serem considerados puros, no entanto, podem apresentar tantas capacidades como qualquer outro cão. 

Por último, quanto à delfinoterapia, já estávamos à espera de ler este tipo de perspetiva uma vez que este foi um assunto abordado durante a aula. A população em geral tem a ideia de que os golfinhos são animais que desejam comunicar com os seres humanos e estar em contacto com estes, no entanto, tal como pudemos aprender, o facto de os golfinhos estarem em contacto com o ser humano é por si só uma situação geradora de stress. Adicionando as informações presentes no capítulo, o modo como os golfinhos são tratados é também malicioso para eles e, neste caso, também para os humanos uma vez que estes animais se podem tornar agressivos. Sendo assim, achamos que este tipo de terapia deve ser completamente evitado, devendo antes o terapeuta procurar outras soluções, dentro ou fora do âmbito das TAA.

Bibliografia: Altschiller, D. (2011). Animal-Assisted Therapy. Greenwood

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