quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Farm Animal-Assisted Intervention: Relationship between Work and Contact with Farm Animals and Change in Depression, Anxiety, and Self-Efficacy Among Persons with Clinical Depression"

Artigo escrito por Pederson, Martinsen, Berget & Braastad (2011)

Este artigo pretende analisar qual a relação entre vários elementos de uma intervenção assistida por animais de uma quinta e as modificações que esta pode ter na depressão, ansiedade e a perceção de auto-eficácia de pessoas com depressão. Para tal, os autores utilizaram como amostra um grupo de 14 pessoas, três homens e 11 mulheres, com idades compreendidas entre os 23 e os 54 anos e que correspondiam a todos os critérios apresentados pelo DSM-IV para a depressão major.

A intervenção consistiu no trabalho e contacto com animais de uma quinta, duas vezes por semana durante 12 semanas, tendo as sessões uma duração entre 1 hora e meia e 3 horas. Numa primeira sessão, os participantes visitaram o local para se familiarizarem com este e, nas sessões seguintes, foi lhes pedido que realizassem tarefas juntamente com o fazendeiro no estábulo, nomeadamente, cuidar das vacas. Dentro destas tarefas inclui-se: ordenhar, alimentar, limpeza, mover os animais, alimentar os bezerros com leite, pentear, remover o estrume e o lixo, contacto físico com os animais, observá-los, dialogar com o fazendeiro e ainda, falar com os animais.

Com a realização deste estudo os autores concluíram que houve um declínio nos sintomas depressivos e de ansiedade e um aumento da capacidade de a pessoa em perceber que pode ser eficaz. Estes resultados positivos associados à saúde mental, estão relacionados com atividades específicas nomeadamente ordenar, alimentar, limpar, mover os animais e dialogar com o fazendeiro. Por outro lado, pentear as vacas, remover o estrume e o lixo e o facto de por vezes contactarem com apenas um animal, não teve efeitos positivos, pelo contrário.

Quanto ao primeiro grupo de atividades, estas caracterizam-se por serem mais complexas, algo que poderá explicar o resultado positivo. O facto de os participantes do estudo necessitarem de desenvolver novas capacidades de trabalho permite que consequentemente adquiram novas estratégias de coping e, sendo este um elemento essencial na gestão dos sintomas depressivos e de ansiedade, traduziu-se assim num efeito positivo em termos de saúde mental. Já o segundo grupo de atividades não implica este tipo de aquisição, podendo assim segundo os autores explicar a correlação negativa.

Um resultado surpreendente foi o facto de que o contacto direto com os animais não teve um efeito positivo nos participantes. No entanto, os autores colocam em evidência uma grande quantidade de estudos que demonstram que o contacto com animais de companhia é efetivamente benéfico para a saúde mental. Sendo assim, estes explicam que este resultado pode estar associado ao facto de este contacto com os animais só existir devido à "obrigação" em realizar as atividades de trabalho anteriormente descritas.

O diálogo com o fazendeiro demonstrou ser essencial uma vez que permitiu aos participantes terem um apoio social a que os autores chamam de "ferramenta terapêutica".

Concluindo, neste estudo em específico os autores puderam perceber que o contacto com animais de um quinta é positivo para a saúde mental de pessoas com sintomas de depressão e ansiedade, mas apenas quando este contacto está relacionado com o desenvolvimento de capacidades de trabalho.

REFLEXÃO
Achamos este artigo particularmente interessante uma vez que aborda uma perspetiva diferente das Terapias Assistidas por Animais, nomeadamente o facto do enfoque serem animais pertencentes a uma quinta, mais precisamente, vacas.

Estes são animais que não são considerados por muitos como um animal de companhia, mas sim como apenas um meio de obter diversos alimentos (e.g. leite, queijo, iogurtes, etc.), daí também termos achado uma boa ideia apresentar este artigo uma vez que nos permite ter uma perceção diferente destes animais e do modo como eles podem ser benéficos para a saúde (neste caso, mental) das pessoas.

Apesar de no estudo em causa não ter ocorrido uma relação positiva entre o contacto com estes animais e os efeitos nos sintomas dos participantes, os autores enfatizam que este acontecimento pode estar apenas relacionado com o facto de o contacto ter sido feito com base em atividades de trabalho, ou seja, não foi dada a oportunidade de as pessoas estarem em contacto com as animais por puro prazer e de forma espontânea. Isto poderá querer dizer que, quando utilizamos os animais como forma de terapia/intervenção, será importante criar atividades que transmitam sentimentos de bem-estar ao cliente, de forma a que a terapia não seja vista como uma obrigação e podendo assim prejudicar os efeitos desta. Com base em diversos autores e outros estudos realizados, Pederson, Martinsen, Berget & Braastad (2011) desde início que salientaram a importância dos animais de companhia, nomeadamente como tendo efeitos benéficos nos sintomas depressivos e de ansiedade, sendo assim este um tipo de terapia a considerar nesta população.

Este estudo demonstrou-se também interessante pois o fazendeiro constituiu uma pessoa essencial durante a intervenção, mais precisamente como uma forma de providenciar apoio social. A questão do apoio social foi bastante abordada este semestre, no sentido em que constitui uma base de suporte bastante importante capaz de influenciar o modo como o processo de intervenção ocorre. Sendo assim, em qualquer terapia (incluindo a psicomotricidade) é importante que o técnico seja capaz de providenciar este tipo de apoio, sempre no sentido de também promover a autonomia do cliente e a sua independência (algo que também aconteceu no estudo em causa, uma vez que inicialmente o fazendeiro apenas dava ordens sobre o que era necessário fazer e, progressivamente, deixou de dar ordens e passou apenas a ser uma forma de os participantes poderem dialogar).


Bibliografia: Pederson, I., Martinsen, E., Berget, B. & Braastad, B. (2011). Farm Animal-Assisted Intervention: Relationship between Work and Contact with Farm Animals and Change in Depression, Anxiety, and Self-Efficacy Among Persons with Clinical Depression. Issues in Mental Health Nursing, 32, 493-500. doi: 10.3109/01612840.2011.566982

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