sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Introdução

No âmbito da unidade curricular de Modelos de Intervenção em Psicomotricidade, lecionada no 3º ano da licenciatura de Reabilitação Psicomotora, na Faculdade de Motricidade Humana, foi-nos proposta a realização do presente trabalho, o qual consiste na criação de um portfólio de acordo com um dos modelos lecionados na disciplina.

O modelo escolhido pelo grupo foi as Terapias Assistidas por Animais (TAA). Foi esta a nossa escolha pois é um tema que desperta o nosso interesse mas pelo qual não estamos tão à vontade, uma vez que este não é referido de forma aprofundada durante a licenciatura e é contexto sobre o qual nós não atuamos durante o estágio. Para além disso, consideramos que este é um tema importante pois é uma forma de terapia que poderá complementar a Terapia Psicomotora e a qual há possibilidade de estarmos em contacto durante a nossa vida profissional.

Optámos por criar um blog de forma a que a informação fosse partilhada de forma mais apelativa e aproveitando assim uma estratégia diferente para realizar um trabalho escrito, algo que nem sempre temos oportunidade de fazer. Neste blog apresentamos uma série de documentos e respetivas reflexões, que permitem aprofundar a temática das TAA. Sendo assim, apresentaremos artigos, capítulos de livros, fotografias, notícias, reportagens (com vídeos incluídos), projetos, testemunhos e ainda entidades importantes neste âmbito. Disponibilizamos ainda uma conclusão, onde fazemos uma reflexão final sobre todo o trabalho desenvolvido ao longo do semestre e de que forma este foi contributivo para a nossa experiência pessoal e profissional.

Conclusão

Com a realização deste trabalho, foi-nos possível tirar algumas conclusões acerca das Terapias Assistidas por Animais (TAA).

Ao pesquisarmos e integrarmos informações sobre animais domésticos, animais de quinta e golfinhos, conseguimos perceber que a terapia geralmente mais utilizada é a Equitação com Fins Terapêuticos, contudo, a que permite maior diversidade é a terapia com cães, pois permite ajudar na leitura ou ter momentos mais livres de brincadeira, entre muitas outras atividades. No entanto, também conseguimos perceber que nem sempre as TAA são benéficas para os animais, condição esta essencial durante o processo terapêutico. Os animais, depois de algum tempo com as pessoas, começam a sentir stress, sendo por isso necessário os terapeutas terem em atenção os comportamentos expressos por estes, essencialmente porque os animais funcionam como nossos coterapeutas, pelo que o seu desempenho nas atividades é crucial para uma melhor intervenção possível. As TAA devem ser benéficas tanto para os pacientes como para os próprios animais, necessitando de se ter em conta as características de ambos.

Percebemos ainda que cada vez mais se está a apostar nestes tipos de terapias, tanto por parte das Câmaras Municipais, escolas, hospitais/clínicas e instituições, o que demonstra o reconhecimento dos benefícios e trabalhos desenvolvidos nesta área.

O facto de termos desenvolvido este trabalho ao longo de todo o semestre foi também benéfico, uma vez que nos permitiu uma consolidação crescente relativamente ao tema e uma maturidade diferente nos momentos de reflexão. Neste sentido, a aula sobre esta temática foi também importante, no sentido em que nos forneceu as bases para a realização do trabalho.

Por fim, consideramos que a realização deste trabalho contribuiu para os nossos conhecimentos nesta área, dado que, como futuras psicomotricistas, temos interesse em saber e perceber que terapias poderão ser utilizadas como complemento da Psicomotricidade, permitindo assim um maior e melhor desenvolvimento da pessoa com quem estamos em intervir.

Associação Vinculum Animal

A Associação Vinculum Animal está sediada no Porto e caracteriza-se por apresentar diversas formas de Intervenções Assistidas por Animais (atividades, terapia, educação e leitura). Para além disso, apresenta neste momento uma grande variedade de projetos no âmbito das TAA, algo que achamos pertinente apresentar.


  • Perturbações do Espetro do Autismo
Nesta população a associação dispõe de 3 projetos: o projeto "Crescer", o projeto "Descobrir" e o projeto "ALMA".
O primeiro é destinado a crianças com 10 anos de idade e tem como objetivos gerais permitir a extinção do mesmo de cães, estimular as relações interpessoais e melhorar a qualidade de vida destas crianças. 
O segundo é direcionado para as crianças com 4 anos de idade, pretendendo igualmente melhorar a qualidade de vida e ainda promover e potenciar a comunicação verbal e não-verbal.
O terceiro, apresenta os mesmos objetivos gerais que o projeto Crescer no entanto, destina-se a crianças com 9 anos de idade.


  • Crianças e Jovens
Para as crianças e jovens a associação apresenta um projeto ("Super-heróis") o qual já apresenta resultados. Este é destinado a crianças e jovens da Associação Rumo à Vida e os seus objetivos prendiam-se essencialmente com a promoção e potenciação da comunicação verbal, não-verbal e ainda das capacidades de compreensão.
Com a realização deste projeto, comparando os efeitos nesta população antes e após a sua aplicação, foi possível para a associação concluir que as TAA tiveram um impacto positivo na grande maioria dos jovens que participaram.

  • Adultos
O projeto "Focinhos Terapêuticos" é destinado a 15 utentes da enfermaria feminina do Centro Hospitalar Conde Ferreira. Apresenta como objetivos gerais a melhoria da qualidade de vida destas utentes, o fortalecimento de laços afetivos e ainda a promoção das capacidades sociais.

  • Idosos
O projeto "Aproximar" destina-se a 15 utentes do Lar e Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia. Com este, a associação pretende melhorar a qualidade de vida dos utentes e as relações interpessoais e ainda potenciar as suas capacidades cognitivas e emocionais.


"Equitação Especial no Seio da Psicomotricidade"

Artigo escrito por Faria e Santos (2007)


Este artigo retrata as diferentes vertentes existentes no âmbito da Equitação Especial, referindo ainda a quem estas se destinam, algumas contraindicações da sua prática e apresenta uma explicação relativamente à utilização do cavalo, aspeto em comum entre todas as vertentes.
Academia Equestre João Cardiga - Special Olympics Equitação 2015

De acordo com Uzun (2005 cit. in Faria & Santos, 2007) a Equitação Especial (EE) é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo nas áreas de saúde, educação e equitação. A EE divide-se em três vertentes, nomeadamente:
  • Hipoterapia – Este método utiliza o cavalo no âmbito de tratamento e não como forma de ensino de equitação. Nesta vertente, o indivíduo reage apenas ao movimento tridimensional do cavalo e adquire reações automáticas a partir deste, fazendo alguns ajustamentos para que permitam a manutenção do equilíbrio (Fitzpatrick, 1994 cit. in Faria & Santos, 2007);
  • Equitação Terapêutica - Destinada a pessoas com alguma incapacidade ou doença, ou a pessoas que apresentam capacidades para exercer alguma ação sobre o cavalo e que aprendem a montar ao mesmo tempo que beneficiam de terapia;
  • Equitação Desportiva Adaptada - É praticada por pessoas com dificuldades intelectuais, no sentido em que estas aprendem equitação e a modalidade de dressage, existindo uma futura possibilidade de competição (Uzun, 2005, cit in Faria & Santos, 2007).

A EE é uma forma de terapia que apresenta diversos objetivos, nomeadamente na melhoria de padrões fora do comum, do esquema corporal e postura, entre outros. Esta é recomendada nas seguintes situações (Uzun, 2005 cit. in Faria & Santos, 2007):
  • Crianças e adultos com disfunção neuromusculoesquelética;
  • Alterações do tónus muscular;
  • Problemas de comportamento;
  • Paralisia Cerebral;
  • Acidente Vascular Cerebral;
  • Atrasos do desenvolvimento;
  • Trissomia 21.

No entanto é necessário ter em atenção que existem patologias em que esta terapia não é a indicada, como é no caso de crianças com T21 com idade inferior a 3 anos ou em indivíduos com artrose coxofemoral, com coluna instável ou spina bífida.

Relativamente à importância da utilização do cavalo, Faria e Santos (2007) referem que este é indicado para a terapia com animais, pois apresenta andamentos semelhantes aos do Homem, em termos do número de passos que dá por minuto e do comprimento dos mesmos, o que permite que esta seja uma terapia com bastantes benefícios para quem a usufrui. 

REFLEXÃO
Este artigo foi importante no sentido em que nos permitiu consolidar a matéria lecionada na aula sobre a Equitação com Fins Terapêuticos (EFT) (no artigo referida como Equitação Especial). Dentro deste âmbito é importante percebermos que a EFT se divide em diferentes ramos, de acordo com o objetivo que se prentede atingir com o cliente em questão. Sabendo estas informações, a quando a aplicação destas práticas, poderá ser possível para o terapeuta providenciar um adequado plano de intervenção, de acordo com as características e expetativas da pessoa.

É também importante saber que tipo de populações não podem beneficiar desta terapia, uma vez que o objetivo do terapeuta é providenciar momentos que permitam a promoção das competências da pessoa e não a sua limitação. Para além das populações referidas, na aula focámos também nas pessoas com epilepsia, as quais não podem usufruir da EFT.

Um aspeto igualmente importante, é este artigo permitir fazer a ponte entre a equitação e a Psicomotricidade. Esta é assim uma terapia que tem efeitos benéficos no domínio motor, na postura e no esquema corporal, componentes estas que são também trabalhadas na nossa área. Sendo assim, quando em contacto com alguém em que é necessário trabalhar estes aspetos, o psicomotricista poderá utilizar a EFT como uma terapia complementar, capaz de providenciar um maior e melhor desenvolvimento do cliente.

Bibliografia: Faria, I. & Santos, S. (2007). Equitação Especial no Seio da Psicomotricidade. A Psicomotricidade, 9, 41-45.

Fotografias

Neste post, iremos apresentar algumas fotografias de insituições ou associações que realizam Terapia Assistidas por animais.



TAA no projeto "Ler Cãofiante"
Limk: http://player.sicnoticias.pt/2015-07-21-Grande-Reportagem-Interativa-Os-Tratadores- 
TAA na escola  Unidade de Ensino Estruturado da EB1 n.º 1 do Cacém
Link:http://esgamabarros.pt/gbarros/terapia-assistida-com-animais-cinoterapia-e-assinoterapia/

TAA na Associação Casa do Caminho
Link: http://ppl.com.pt/pt/pegadas-solidarias
Clara Cardoso
TAA na Residence Care - São Paulo
Link: http://o-toque-da-atlantida.bizlink.pt/index.php/valencias/terapias-convencionais-2/

TAA na Associação Casa do Caminho
Link: http://ppl.com.pt/pt/pegadas-solidarias

TAA com golfinhos em Cuba
Link: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2014/06/golfinhos-adestrados-melhoram-vida-de-criancas-deficientes-em-cuba.html
TAA na Residence Care - São Paulo
Link: http://www.residencecare.com.br/Blog/caes-e-outros-bichos-terapeutas/35









Bibliografia

  • Animal Therapy (s.d.). What is AAT/AAA? Consultado a 15 de Dezembro de 2016, em http://animaltherapy.net/what-is-aataa/
  • Altschiller, D. (2011). Animal-Assisted Therapy. Greenwood
  • Barbosa, G. e Munster, M. (2014). O Efeito de um Programa de Equoterapia no Desenvolvimento Psicomotor de Crianças com Indicativos de Transtorno de Déficit de Atenção e HiperatividadeRevista Brasileira de Educação Especial. 20(1). 69-84. Retirado de http://www.scielo.br/pdf/rbee/v20n1/a06v20n1.pdf
  • Dotti, J. (2014). O que é A/TAA?. In J. Dotti (Eds.), Terapia e Animais. (29-38). São Paulo: Livrus Negócios Editoriais.
  • Faria, I. & Santos, S. (2007). Equitação Especial no Seio da Psicomotricidade. A Psicomotricidade9, 41-45.
  • Folch, A., Torrente, M., Heredia, L. & Vicens, P. (2016). Estudio preliminar de la efectividad de la terapia asistida con perros en personal de la tercera edad. Revista Espnõla de Geriatría y Gerontología. doi: 10.1016/j.regg.2015.12.001
  • Joseph, J., Thomas, N., & Thomas, A. (2016). Changing dimensions in human–animal relationships: Animal Assisted Therapy for children with Cerebral Palsy. International Journal Of Child Devlelopment And Mental Health, 4(2), 52-62. Retirado de https://www.tci-thaijo.org/index.php/cdmh/article/view/65916
  • Pederson, I., Martinsen, E., Berget, B. & Braastad, B. (2011). Farm Animal-Assisted Intervention: Relationship between Work and Contact with Farm Animals and Change in Depression, Anxiety, and Self-Efficacy Among Persons with Clinical Depression. Issues in Mental Health Nursing, 32, 493-500. doi: 10.3109/01612840.2011.566982
  • Vaccari, A. M. H., & Almeida, F. D. A. (2007). A importância da visita de animais de estimação na recuperação de crianças hospitalizadas. Einstein5(2), 111-116.

Links das notícias e projetos:

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Terapias Assistidas por Animais (TAA)

Hoje em dia a utilização de animais em atividades e intervenções junto dos Homens é cada vez mais comum, tornando-se importante entender as principais diferenças entre Atividades Assistidas com Animais (AAA) e Intervenções Assistidas com Animais (IAA), assim como quem pode intervir em cada uma (Vaccari e Almeida, 2007).
As Atividades Assistidas com Animais (AAA) não têm um objetivo terapêutico, são informais e utiliza-se o binómio animal/humano com fins educacionais, motivacionais e recreativos, no entanto não requer formação específica na área da saúde, educação ou do serviço social (Vaccari e Almeida, 2007).
Segundo Vaccari e Almeida (2007), a Intervenção Assistida com Animais (IAA)  tem como finalidade proporcionar benefícios terapêuticos, com objectivos específicos e a participação ativa de animais na saúde e educação do Homem. Esta intervenção pode dividir-se em Educação Assistida com Animais (EAA) e em Terapias Assistidas com Animais (TAA), sendo que aprofundaremos maioritariamente esta ultima vertente.
A EAA tem como objetivo melhorar o sucesso académico, as capacidades sociais e a função cognitiva do cliente utilizando o animal no processo terapêutico. É uma intervenção onde se definem medidas e metas, necessitando de constante avaliação da evolução do individuo. Pode ser exercida por profissionais da área da educação e/ou da saúde (Vaccari e Almeida, 2007).
Terapias Assistidas por Animais (TAA)
A TAA é definida como uma intervenção orientada, em que um animal é inserido no processo terapêutico como coterapeuta do profissional, onde esta introdução é projetada como uma alternativa mais lúdica de atingir resultados considerados difíceis, tendo como objetivo desenvolver as funções físicas, cognitivas, comportamentais e/ou sócio-emocionais do individuo (Anderson, 2004 cit. in Joseph, Thomas e Thomas, 2016; Nimmer e Lundahl, 2007 cit. in Joseph, Thomas e Thomas, 2016; Dotti, 2014 ; Joseph, Thomas e Thomas, 2016; Animal Therapy, s.d.).
É aplicada por profissionais devidamente habilitados, quer da área da saúde, quer da área da educação e estes devem ter experiência em relação às aplicações clinicas da interação homem-animal (Dotti, 2014 ; Animal Therapy, s.d.).
Nas TAA, são formulados e planeados objetivos e critérios, que são dirigidos e estabelecidos para o paciente, de modo a desenvolver e promover a sua saúde física, competências sociais e emocionais e as funções cognitivas. É um processo terapêutico formal, que pode ser desenvolvido em grupo ou individualmente (Vaccari e Almeida, 2007; Dotti, 2014 ; Joseph, Thomas e Thomas, 2016; Animal Therapy, s.d.).
Dotti (2014), Vaccari e Almeida (2007) e Joseph, Thomas e Thomas (2016)  referem ainda a importância da realização de relatórios, para que haja controlo periódico sobre o desenvolvimento do paciente.
É utilizada uma grande variedade de animais nesta vertente terapêutica, sendo os mais comuns os animais domésticos, animais de quinta e mamíferos marinhos. No entanto, para que a intervenção seja possível, o animal deve satisfazer critérios específicos pelo que são realizados testes quanto ao comportamento, obediência, socialização e aptidão, que são reavaliados constantemente (Joseph, Thomas e Thomas, 2016).
A escolha do animal para a intervenção tem em conta a perspetiva do paciente e as suas necessidades (Animal Therapy, s.d.).
Dotti (2014) aponta que existem dois efeitos que devem ser tomados em consideração, nas TAA:
1. Os efeitos do animal sobre o paciente – aspetos físico e mental – podem ser analisados e dirigidos aos objetivos, necessitando do acompanhamento de um técnico;
2.  Os efeitos emocionais e sociais podem surgir de forma espontânea, muitas vezes apenas devido à presença do animal. Este aspeto pode resultar numa independência do primeiro efeito referido.
Serpell (2006 cit. in Altschiller, 2011) refere que existem alguns aspetos que o terapeuta deve ter em conta aquando a aplicação das TAA. Estes aspetos são relativos às questões éticas associadas a este tipo de terapia, uma vez que esta não deve ser apenas benéfica para a pessoa mas também para o animal. Sendo assim :
  • Os próprios terapeutas devem ter conhecimentos relativamente às necessidades sociais dos animais e aos seus comportamentos, de forma a permitir que estes tenham um certo nível de controlo relativamente aos estímulos do envolvimento que recebem;
  • É importante os terapeutas perceberam que o facto de os animais estarem em contacto com pessoas que desconhecem pode ser indutor de stress, sendo assim necessário reconhecer os sinais associados a esta resposta fisiológica;
  • Animais que não sejam domésticos não devem ser utilizados nas TAA a não se rem casos excepcionais;
  • Os programas terapêuticos que utilizam golfinhos não são éticos ;
  • Durante o processo de treinamento do animal o stress deve ser reduzido ;
  • É necessário um maior reconhecimento dos animais que não têm raça definida, uma vez que estes podem ser tão ou mais benéficos que os animais de raça ;
  • Deve existir uma maior preocupação relativamente à construção dos equipamentos utilizados pelos animais e locais em que estes habitam ;
  • Continuar a realização de programas educacionais para os terapeutas de forma a garantir que estes tratam o animal de forma adequada.

Bibliografia:

  • Animal Therapy (s.d.). What is AAT/AAA? Consultado a 15 de Dezembro de 2016, em http://animaltherapy.net/what-is-aataa/
  • Altschiller, D. (2011). Animal-Assisted Therapy. Greenwood
  • Dotti, J. (2014). O que é A/TAA?. In J. Dotti (Eds.), Terapia e Animais. (29-38). São Paulo: Livrus Negócios Editoriais.
  • Joseph, J., Thomas, N., & Thomas, A. (2016). Changing dimensions in human–animal relationships: Animal Assisted Therapy for children with Cerebral Palsy. International Journal Of Child Devlelopment And Mental Health, 4(2), 52-62. Retirado de https://www.tci-thaijo.org/index.php/cdmh/article/view/65916
  • Vaccari, A. M. H., & Almeida, F. D. A. (2007). A importância da visita de animais de estimação na recuperação de crianças hospitalizadas. Einstein5(2), 111-116.


    Equitação com Fins Terapêuticos

    A presente notícia expõe-nos a explicação da Equitação com Fins Terapêuticos em Portugal de acordo com a Equipa Técnica do Centro de Equitação Terapêutica da Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa.

    A Equitação com Fins Terapêuticos conjuga a Equitação Clássica e os fundamentos teóricos da Reabilitação, com contributos a nível neuromotor, cognitivo e psicossocial. É exercida por vários técnicos de saúde e educação, dividindo-se em três valências de intervenção, a Hipoterapia, a Equitação Terapêutica e a Equitação desportiva Adaptada.

    Diferenciando as três valências, a Hipoterapia exige uma orientação clínica e só pode ser praticada por terapeutas, em que o objetivo é a reabilitação a nível neuromotor e não o ensino equestre.

    A Equitação Terapêutica aplica-se quando o objetivo é desenvolver áreas psicomotoras, estando direcionado para necessidades específicas na área educacional, psicológica ou cognitiva, podendo ser contemplados com progressos no ensino equestre.

    Por fim, na Equitação Desportiva Adaptada os objetivos não são terapêuticos, mas sim de natureza desportiva ou de lazer. O treinador de equitação e o cavaleiro trabalham em conjunto para desenvolver competências equestres, não tendo o terapeuta um papel ativo.

    A Equitação com Fins Terapêuticos é cada vez mais parte integrante de processos terapêuticos. O facto de ocorrer num ambiente diferente promove o envolvimento ativo dos utentes no desenvolvimento dos objectivos terapêuticos, com uma notável melhoria das aquisições e uma maximização dos potenciais funcionais do indivíduo, promovendo uma melhoria no seu envolvimento ocupacional noutros contextos além do equestre.

    As características equinas transformam estes animais em elementos facilitadores e co-terapeutas, sendo capazes de alterar respostas do sistema nervoso central e de fomentar vivências fundamentais para o desenvolvimento de competências cognitivas e psicossociais.

    Os equinos para poderem ser co-terapeutas têm que apresentar um temperamento calmo, estável e paciente, têm que ser saudáveis, musculados e com andamentos regulares e impulsionados, de modo a proporcionarem uma intervenção adequada.

    REFLEXÃO
    Consideramos esta noticia relevante na medida em que nos apresenta as diferentes vertentes que pode ter a equitação para as pessoas com necessidades especiais, indo totalmente ao encontro do que lecionamos da disciplina e aprendemos acerca do tema.

    Referindo a matéria lecionada na unidade curricular, neste tipo de intervenção, o psicomotricista contribui com os seus conhecimentos, com a sua expêriencia, com técnicas, materiais e recursos físicos e o cavalo é um co-terapeuta tendo o papel de mediador, contribuindo com as suas características próprias conjugadas com a intervenção do terapeuta. No entanto, a equipa técnica não se restringe apenas ao cavalo e ao terapeuta, contempla também um líder e um auxiliar durante a sessão.

    Assim podemos observar que esta terapia requer uma equipa e um trabalho multidisciplinar de modo a proporcionar ao cliente uma intervenção segura e adequada às suas necessidades específicas, e que acarreta imensos benefícios ao nível socio-emocional, de aprendizagem corporal e psicomotor.

    Como futuras psicomotricistas é importante termos conhecimento dos diferentes contextos de intervenção e dos seus benefícios para o individuo, de modo a que possamos melhorar a sua vida e competências da melhor maneira.
                   

    Grande reportagem - Os tratadores


    (clique na imagem para ver a reportagem)

    Esta reportagem foi realizada pela SIC Noticias, e retrata alguns exemplos de casos reais em Portugal que usufruem de terapias assistidas por animais, em diversos contextos que iremos apresentar de seguida. 

    Terapia Assistida por Cães
    1ª Caso
    Tiago é um menino do 3º ano com dislexia, que apresentava dificuldades na leitura, encontrando-se ao nível de uma criança de 1º ano nesse aspeto. O projeto piloto “Ler Cãofiante” (2013) foi aplicado na sua turma, na Escola EB 1 de Silves.

    Este projeto utiliza o Momo, um cão, como mediador da terapia, em que a sua tarefa é ouvir as crianças a ler.

    Tiago conta que gosta de ler para o Momo porque este o acalma, não reclama quando a sua leitura não é correta, apenas vira a cabeça (algumas vezes), e a sua atitude é diferente da dos adultos em geral, ficando o Momo atento ao que ele está a dizer. Quando o Momo fica atento, dá-me mais coragem para eu ler “refere o menino.

    Este menino fez uma progressão constante com esta terapia, tendo iniciado com uma postura de frustração, baixa autoestima e medo de se expor devido à sua problemática. Este projeto fez disparar os índices e desejos de leitura das crianças que usufruíram da presença do Momo, no caso particular do Tiago, este passou a desejar ler em público por iniciativa própria e obteve uma cotação de 65% no exame nacional de 4º ano.

    2º Caso
    Lucas, um adolescente de 17 anos com problemas de comportamento, participou no Projeto “Cãopetências para a vida” que decorreu no seu estabelecimento de ensino, a Escola EB2/3 João de Deus.

    Este projeto foi apoiado pela Câmara Municipal de Silves e consiste no treino e comando do cão por parte dos adolescentes com supervisão da terapeuta.

    O Lucas refere que anteriormente era uma pessoa agressiva, bruta e que não sabia conversar com os outros, e confessou que ao inicio não acreditava que a terapia pudesse resultar, no entanto o facto de não poder “falar mal” com o cão, visto que este poderia ficar agressivo para consigo, fez com que ficasse progressivamente mais calmo, que tivesse consciência da mudança que estava a ocorrer consigo e refere que atualmente se houver algum conflito, já pensa antes de agir, evitando partir para a agressividade.

    A terapeuta mencionou que o Lucas nunca faltou à terapia, justificando que era uma atividade em que ele tinha prazer e interesse e onde se sentia bem com os cães porque estes não o julgavam, não o criticavam e transmitiam-lhe prazer e tranquilidade, motivando assim os adolescentes a participar na terapia.

    3º Caso
    Esta reportagem mostra-nos ainda benefícios da terapia com cães em reclusos de estabelecimentos prisionais, podendo estas alterações ser observadas durante a terapia e no dia-a-dia do individuo nos diversos contextos.

    4º Caso
    O Pedro é um adulto com autismo que usufrui de terapia assistida por animais. Inicialmente a sua participação era retraída e distante, tendo-se começado a aproximar progressivamente. Esta terapia com a cadela Pipa, promoveu o seu desenvolvimento social, ao nível do olhar para o outro e da comunicação com o outro, característico da sua patologia.

    5ª Caso
    Quintino, idoso com stress pós traumático tem terapia com a Surya, uma cadela, no Hospital Psiquiátrico do Centro hospitalar Conde de Ferreira onde está internado. É uma pessoa que se isola, que reage pouco a estímulos externos, deambula pelo espaço, se apresenta depressivo e não comunica verbalmente.

    Na primeira sessão com a Surya e os terapeutas, o Quintino verbalizou e referiu recordações dos animais que tinha antigamente, no entanto quando é solicitada comunicação com os terapeutas, este não o faz, apenas interage com o animal, tanto espontaneamente como quando solicitado.

    No mesmo centro hospitalar, foi implementado em 2012, um projeto piloto na enfermaria feminina com terapia assistida por cães para as pessoas com esquizofrenia. Neste projeto foram estabelecidos objetivos tanto individuais como gerais, tendo sido atingidos com a intervenção, e muitas vezes superiores aos que se esperava, pelo que posteriormente este projeto foi alargado a todo o centro hospitalar.

    “É uma terapia de que eu gosto tanto, porque ao menos estou distraída” refere Patrícia, uma utente desta terapia que começou a perceber que a agressividade não era o melhor modo de resolver os problemas.


    Com estes testemunhos podemos observar que esta terapia beneficia os indivíduos na medida em que:
    •  Aumenta o prazer e o bem-estar;
    •  Aumento da empatia;
    • Aumento da autoestima;
    • Promove a resistência à frustração e à agressividade;
    • Visa combater o isolamento;
    •  Abranda o ritmo cardíaco e respiratório;
    • Reduz a pressão arterial e o nível de stress das crianças;
    •          O cão proporciona à criança o toque essencial à relação;
    • Promove a redução de conflitos entre pares, e no caso dos reclusos entre estes e para com os profissionais;
    • Promove o desenvolvimento social e da linguagem;
    • Ajuda para os professores que não sabem lidar com os alunos.
    É ainda de salientar que os munícipes do conselho de cascais têm acesso gratuito a terapias assistidas por cães (Pi) no Espaço S, com uma equipa multidisciplinar.

    Terapia Assistida por Cavalos
    Caso
    Mariana é uma adulta de 32 anos, dependente de drogas, que optou por utilizar a terapia assistida por equinos como uma possibilidade de intervenção.

    O foco deste tipo de intervenção é a área da saúde mental, das problemáticas de comportamentos, intervindo na família.

    Nathalie Durel estudou o comportamento do cavalo perante as variadas reações das pessoas, utilizando o seu estudo no seu trabalho como terapeuta. Através deste método, o cavalo ajuda o individuo a ir percebendo o que se passa consigo, e ao próprio terapeuta qual a genuidade da instrução do cliente, possibilitando a chegada mais rápida e facilitada das conclusões.

    Inicialmente a Mariana apresentava um estado depressivo, sem esperança e credibilidade. A Mariana referiu que se a terapia fosse realizada apenas pela técnica, ela poderia manipular o discurso, não sendo verdadeira. Com a égua, não o consegue fazer porque os cavalos sentem o que nós sentimos, o que faz com que necessitemos de ser genuínos, pois ele reagirá de acordo com o que lhe transmitirmos.

    O contacto com Samara, a égua, permitiu à Mariana ganhar confiança, perceber o que ia mudando dentro de si, a importância da mudança e necessidade da disposição total para o fazer, tendo melhorado a sua qualidade de vida e modo de pensar.

    REFLEXÃO
    A presente reportagem despertou-nos imenso interesse, permitiu-nos observar o investimento cada vez maior nas terapias assistidas por animais em diversos contextos, desde estabelecimentos de ensino, hospitais psiquiátricos e estabelecimentos prisionais. Esta é uma forma de intervenção que acima de tudo motiva os indivíduos a participar na terapia de um modo mais lúdico, não requerendo tanto o pensamento de que se está numa terapia porque tem alguma problemática, e essa motivação e interesse é notável nos testemunhos apresentados pelas diferentes pessoas.

    Para nós, é surpreendente ver o que os animais, em conjunto com os técnicos das diferentes áreas, conseguem desenvolver junto das pessoas com as mais variadas necessidades, como é que a simples adição do animal à terapia pode melhorar tanto e mais rapidamente a qualidade de vida de cada um dos casos apresentados, além de que as pessoas quando questionadas, reconhecem que isso foi benéfico para si, referindo muitas das vezes, que provavelmente se o animal, seja o cão ou o cavalo como são os presentes exemplos, não estivesse presente e ao seu lado neste caminho, não o teriam continuado ou não teria o mesmo impacto.

    Deste modo, enfatizamos cada vez mais a evolução e o reconhecimento dos animais como co-terapeutas dos técnicos. O facto de estar presente um animal na terapia, já faz com que o cliente esteja mais disponível para a participação porque o animal não o irá julgar, criticar ou humilhar, e isso transmite ao utente uma maior segurança e pré disposição para a atividade. A presença de um elemento distráctil e mais lúdico na intervenção além do terapeuta, permite ainda ao individuo não ter que encarar de forma tão direta a sua problemática, mantendo o foco maioritariamente nos seus progressos e pontos fortes que vão sendo observados e não tanto no problema em si, como estão habituados e cansados que o seja pela sociedade em geral.

    Concluindo, os animais “obrigam-nos” a ser genuínos e a pensar antes de agirmos, mudando assim o nosso modo de pensar e os nosso comportamentos, pois eles têm uma perceção diferente e mais sensível às atitudes das pessoas, não falam verbalmente como os humanos, mas iram reagir e despoletar emoções em nós próprios de acordo com a ação que tivermos para com ele, e aos poucos, com o seu amor relacional para connosco, vão melhorando a nossa vida, os nossos pontos fracos e as nossas capacidades.

    Experiência Pessoal de um Workshop de TAA

    No dia 30 de Março de 2015 tive a oportunidade de assistir a um pequeno workshop sobre as Terapias Assistidas por Animais (TAA), com uma duração de cerca de 1 hora e 30 minutos. Este workshop foi realizado na Faculdade de Motricidade Humana pela Gladys Malafaia, que foi também a pessoa responsável por nos dar a aula de Modelos de Intervenção em Psicomotricidade sobre esta temática. 

    O mais interessante neste workshop comparativamente com outros já realizados, foi o facto de nos ser possível experienciar uma componente mais prática, nomeadamente através da realização de uma atividade com um cão.

    Inicialmente a Gladys apresentou-nos um pouco sobre o que são as TAA, algo que me foi benéfico no futuro uma vez que quando tivemos a aula sobre esta temática já sabia algumas coisas sobre o assunto. Mal soube que este workshop iria ocorrer decidi participar pois sempre gostei muito de animais e, para além disso, sei o quanto eles podem ser benéficos para nós e para a nossa saúde, não só em termos físicos mas também psicológicos. Sendo assim, queria perceber em que sentido é que eles poderiam ser benéficos em âmbito terapêutico, algo que consegui entender neste dia.

    No entanto, a Gladys não se focou apenas nos benefícios deste tipo de terapia. Apresentou-nos também algumas informações importantes sobre como devemos lidar com o animal, neste caso, o cão. Este deve ser treinado de forma a respeitar o seu treinador sempre que este lhe dá uma ordem e deve também respeitar as restantes pessoas com quem está em contacto, uma vez que este é um aspeto essencial durante o processo de intervenção.

    Foi bastante interessante pois todos nós que estivemos presentes no workshop tínhamos a tendência em chamar o cão para que ele viesse para ao pé de nós, no entanto, bastava a Gladys fazer um sinal que o cão "desligava-se" completamente de nós e ia ter com ela, demonstrando assim o quanto a respeita. Percebo que isto seja algo importante pois mesmo que um cão seja dócil, podem sempre ocorrer situações que não o deixam confortável e que o podem levar a ser de certa forma mais agressivo com as pessoas (neste caso, os clientes que estão a usufruir da terapia), sendo assim importante existir uma figura que seja capaz de travar essa agressividade. Não nos podemos esquecer que os animais não têm voz, mas têm comportamentos que nos permitem perceber de que modo ele está a encarar a situação, sendo essencial o terapeuta estar atento a esses mesmos comportamentos.

    A atividade prática foi mais ligada à Psicomotricidade (conceito), no entanto não deixa de ser possível adaptá-la de acordo com a população. A Gladys vestiu ao seu cão um fato com velcro e colocou nesse fato diversas palavras tais como psicomotricidade, tonicidade, agnosia, equilibração, etc. (tal como é possível ver na imagem). A atividade consistia em a Gladys dizer as definições dessas palavras e nós termos que adivinhar a que palavra corresponde.

    Reparei que durante este processo o cão esteve sempre a deslocar-se de um lado para o outro, ou seja, quando a Gladys dizia a definição ele estava ao pé dela, mas quando era necessário nós adivinharmos qual a palavra ele vinha para ao pé de nós para a retirarmos do seu fato. Sempre que ia para ao pé da Gladys, esta dava-lhe um biscoito pelo bom trabalho.


    Achei esta atividade particularmente interessante pois permitiu trabalhar a associação de conceitos mas de uma forma muito mais divertida e que nos colocou muito mais à vontade. Nunca pensei que poderia ser realizada uma atividade deste género com um animal, o que me fez ter um olhar diferente sobre este tipo de terapias no sentido em que estas não têm que ser vistas como sendo terapias complexas, mas sim como uma forma de podermos adaptar as atividades que desenvolvemos normalmente em Psicomotricidade e acrescentar o elemento animal, que por si só é benéfico para o processo.

    Paula Rodrigues

    Ethical Issues and Questions about Therapy Effectiveness

    Este capítulo pertence ao livro Animal-Assisted Therapy de Donald Altschiller, publicado em 2011. Seguidamente iremos apresentar o seu resumo e, de seguida, uma reflexão sobre o mesmo.

    Este capítulo faz ênfase aos problemas éticos associados às Terapias Assistidas por Animais (TAA), não só relativamente aos resultados do contacto entre a pessoa e o animal, mas também relativamente ao modo como este tipo de terapia pode trazer consequências negativas para estes seres vivos.

    O autor refere que a questão mais controversa dentro desta temática, é o modo como os animais são tratados durante a realização destas terapias. Sendo assim, o enfoque do capítulo não será apenas contestar o modo como é feita a avaliação nas TAA, mas também as preocupações relativamente ao modo como os cães que fazem visitas a instituições são tratados e, mais especificamente, é abordada a controvérsia sobre a utilização de golfinhos em âmbito terapêutico.

    Quanto à avaliação nas TAA, existe uma quantidade relativa de literatura que refere que este tipo de terapia tem efeitos benéficos não só em termos fisiológicos mas também psicológicos, no entanto, têm vindo a ser levantadas algumas questões quanto a este facto.

    Beck e Katcher (2003) referem que as práticas desenvolvidas nas TAA não apresentam objetivos que permitem uma orientação e, mesmo quando os objetivos são devidamente identificados, o modo de avaliação não está bem esclarecido. O autor do livro refere que este ceticismo pode estar associado ao facto de grande parte dos estudos realizados neste âmbito apenas demonstram os efeitos a curto-prazo. Por outro lado, outros autores levantam a questão de não se ter em conta o companheirismo animal, no entanto, mesmo os estudos que têm em consideração este fator levantam dúvidas a alguns profissionais de saúde.

    Neste sentido, dois investigadores analisaram os estudos realizados no âmbito da interação homem-animal e conseguiram concluir que é bastante comum encontrar conclusões precipitadas relativamente à eficácia destes programas terapêuticos quando o tipo de intervenção não foi de qualquer forma avaliado. Para além disso, os investigadores encontraram também por diversas vezes conclusões generalizadas. Por outro lado, vários autores têm citado uma grande quantidade de estudos qualitativos que demonstram que as TAA são efetivamente benéficas, não existindo assim um consenso relativamente a esta temática.

    Entrando na temática do modo como os animais são tratados, o autor do livro não faz apenas referência às TAA mas também às Atividades Assistidas por Animais (AAA). Um dos aspetos mais referidos dentro destes programas, é o modo como estes podem induzir stress nos animais levando a certas respostas tais como tremores, espasmos musculares e produção excessiva de saliva, sendo bastante importante o terapeuta ter conhecimento destes tipos de respostas.

    Especificando para a questão dos cães que realizam visitas a instituições, o autor refere que o seu bem-estar irá depender muito do ambiente institucional e do conhecimento e experiência que o seu dono (e.g.: terapeuta) tem. Alguns terapeutas referem que as visitas a instituições devem demorar no máximo uma hora, no entanto, não existe um consenso quanto ao tempo necessário para que a visita seja produtiva para a pessoa institucionalizada. Este é um fator que pode levar ao stress do animal, algo que muitas vezes não é percecionado pelo terapeuta, fazendo assim com que a intervenção seja apenas benéfica para a pessoa.

    O facto de as pessoas que vivem em instituições poderem magoar os cães é também algo a ter em atenção. Os cães que trabalham com pessoas com deficiência motora podem sofrer lesões físicas devido ao trabalho que necessitam de desenvolver com estes (e.g.: ajudar o cliente a levantar ou sentar, empurrar uma cadeira de rodas, etc.).

    Apesar de os cães serem os animais mais predominantemente usados neste contexto, em alguns casos são também utilizados gatos e pássaros, os quais pedem cuidados redobrados devido ao facto de serem mais pequenos e, consequentemente, mais frágeis. O transporte do animal para o local, é também uma situação bastante geradora de stress que deve ser tida em consideração. Igualmente, em alguns locais são utilizados macacos, nomeadamente para auxiliar pessoas com deficiência motora. Neste caso, já foram reportadas bastantes situações em que os dentes dos animais foram removidos ou em que estes recebiam constantes choques elétricos de forma a não se tornarem agressivos para com os clientes usufruidores da terapias.

    O autor refere ainda que apesar de se acreditar que as TAA e as AAA são benéficas tanto para a pessoa como para o animal, o que é certo é que grande parte dos animais não corresponde ao que é desejado durante o treino necessário para poderem participar neste tipo de terapia/atividades.

    Por último, geralmente nas TAA são utilizados animais de raça (e.g.: golden retrivier) devido ao facto de apresentarem características que lhes permitem estar mais facilmente em contacto com outras pessoas. No entanto, isto levanta questões éticas relativamente à procriação uma vez que procriar dentro da mesma geração leva a problemas físicos, psicológicos e a uma maior incidência de doenças nos animais.

    Quanto à delfinoterapia, vários estudos têm referido os seus efeitos benéficos em indivíduos com autismo ou com dificuldades intelectuais. No entanto, esta é uma terapia que se tem demonstrado nada benéfica para os golfinhos. O facto de estes estarem confinados a um tanque, despertou em muitos casos comportamentos de agressividades e o facto de este ser um espaço bastante reduzido, promover também uma grande variedade de infeções bacterianas. Este espaço leva ainda a que os golfinhos percam as capacidades necessárias para navegarem nas águas. Para além disso, uma autora ao analisar diferentes estudos conseguiu perceber que a delfinoterapia não é mais eficaz no processo de aprendizagem ou no desenvolvimento socioemocional das crianças, em comparação com qualquer outra terapia.

    Concluindo, a delfinoterapia apresenta efeitos negativos não só para os animais mas também para as pessoas, efeitos estes que são difíceis de ultrapassar.

    REFLEXÃO
    Relativamente à questão da avaliação nas TAA, consideramos que esta foi pertinente uma vez que este é um assunto que não foi abordado na disciplina (exceptuando para a Equitação com Fins Terapêuticos). Sendo a avaliação uma componente importante no âmbito da Psicomotricidade, torna-se igualmente importante perceber um pouco mais o modo como esta se processa neste tipo de terapias uma vez que estas podem ser utilizadas de forma complementar à terapia psicomotora.

    Quanto a este assunto, a ideia que ficou foi a de que muitas vezes esta terapia não apresenta objetivos e, quando os apresenta, o modo como a avaliação é feita não está claro. Tendo em conta que os objetivos são uma componente essencial de qualquer intervenção pois permitem definir a intencionalidade terapêutica, achamos que nesta terapia isto é algo que deveria sempre ocorrer, sendo estes definidos de acordo com a pessoa e também de acordo com o animal a ser utilizado.

    Relativamente aos efeitos das TAA, na aula foram apresentados diversos benefícios nas mais variadas populações (e.g.: depressão, crianças e adolescentes com PEA, gerontes, etc.) e com base em diversos estudos, indo assim ao encontro do que é referido no capítulo de que grande parte dos estudos apresentam resultados positivos quanto à implementação das TAA.

    Considerámos este capítulo particularmente interessante devido ao facto de abordar as questões éticas associadas ao tratamento dos animais utilizados nas TAA. Tal como referido nas aulas sobre esta temática, o terapeuta não se deve preocupar unicamente com o bem-estar do cliente e com a promoção da sua funcionalidade e independência, sendo assim necessário ter também em conta o bem-estar do animal uma vez que este tem de ser um processo prazeroso para ambos.

    Deste modo, analisando o capítulo, é possível perceber que o terapeuta durante as sessões deve analisar os comportamentos do animal, com o intuito de perceber se aquela é uma situação que lhe estará a aumentar os níveis de stress. Se for o caso, pensamos que talvez seja preferível afastar o animal do local e permitir que este faça algo que lhe permita sentir-se melhor (e.g.: passear, brincar, etc.), podendo este posteriormente voltar para o local. Se as respostas de stress persistirem, poderá ser melhor o terapeuta optar por escolher outro animal que se adapte melhor ao contexto da sessão, algo que também foi referido durante as aulas da disciplina.

    Este artigo tocou ainda outro ponto interessante, nomeadamente o facto de neste tipo de terapias serem utilizados maioritariamente animais de raça. De acordo com o que aprendemos na aula sobre esta temática, a ideia de que os animais de raça são os únicos adequados para esta prática está errada, uma vez que, por exemplo, um cão rafeiro pode ser tão bom coterapeuta quanto um cão golden retrivier. De facto esta raça apresenta características próprias que fazem com estes animais sejam mais sociáveis, no entanto, desde que o cão rafeiro apresente essas mesmas características, este pode ser utilizado neste tipo de terapias. Este foi um aspeto que também já referido anteriormente (no post sobre as TAA) e que nós achamos pertinente salientar, uma vez que os cães rafeiros são muitas vezes excluídos e menos desejados por não serem considerados puros, no entanto, podem apresentar tantas capacidades como qualquer outro cão. 

    Por último, quanto à delfinoterapia, já estávamos à espera de ler este tipo de perspetiva uma vez que este foi um assunto abordado durante a aula. A população em geral tem a ideia de que os golfinhos são animais que desejam comunicar com os seres humanos e estar em contacto com estes, no entanto, tal como pudemos aprender, o facto de os golfinhos estarem em contacto com o ser humano é por si só uma situação geradora de stress. Adicionando as informações presentes no capítulo, o modo como os golfinhos são tratados é também malicioso para eles e, neste caso, também para os humanos uma vez que estes animais se podem tornar agressivos. Sendo assim, achamos que este tipo de terapia deve ser completamente evitado, devendo antes o terapeuta procurar outras soluções, dentro ou fora do âmbito das TAA.

    Bibliografia: Altschiller, D. (2011). Animal-Assisted Therapy. Greenwood

    quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

    "O Efeito de um Programa de Equoterapia no Desenvolvimento Psicomotor de Crianças com Indicativos de Transtorno de Déficit da Atenção e Hiperatividade"

    De acordo com Pereira, Araújo e Mattos (2005 cit in Barbosa e Munster, 2014), as crianças com Perturbação da Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA), desde os anos 70, têm sido diagnosticadas com algumas diferenças no movimento, tanto em qualidade como em quantidade, quando comparadas com crianças ditas "normais", observando-se desregulação da atividade motora.
    Estas inadequações motoras e comportamentais são bastante evidentes no ambiente escolar, apesar de se notar noutros contextos onde a criança se insere (Barbosa e Munster, 2014).

    Segundo vários autores, citados por Barbosa e Munster (2014), a hipoterapia, através dos movimentos tridimensaionais do cavalo, oferece grandes benefícios a estas crianças (Sterba et al, 2002; Meregillano, 2004; Graup, Oliveira e Link, 2006; Copetti et al, 2007; Murphy, Kahn-D'Angelo e Gleason, 2008; Negri, Arruda e Cunha, 2008; Frank, McCloskey e Dole, 2011). Medeiros e Dias (2002 cit in Brbosa e Munster, 2014), neste sentido, referem que esses benefícios provêm do alinhamento do centro de gravidade homem-cavalo, melhorando o equilíbrio, a tonicidade, o alinhamento e consciência corporal, a coordenação motora e a força muscular.

    No sentido de perceber o efeito de um programa de educação/reeducação de hipoterapia no desenvolvimento psicomotor de crianças com PHDA, Barbosa e Munster (2014) realizaram um estudo que consistiu na aplicação desse programa a cinco crianças com PHDA, com idades entre os 7 e os 10 anos, dividido por 24 sessões, duante três meses. Estas sessões tinham caráter individual. Os aspetos que os autores avaliaram, relativamente ao seu desenvolvimento, foram a motricidade fina e global, o equilíbrio, a noção corporal, a estruturação espácio-temporal e a lateralização.
    Com a análise dos resultados, os autores concluíram que este programa teve, de facto, uma inflência positiva no desenvolvimento psicomotor das crianças com PHDA que participaram no estudo, visto que todas as crianças aumentaram a sua idade motora geral. Também se observaram respostas adaptativas, por parte destas crianças, que promoveram os benefícios psicomotores. Por fim, os autores também referiram que este é um tipo de intervenção que oferece inúmeros estímulos diferenciados que influenciam de forma positiva os aspetos observados, através da interação com o cavalo e com a natureza. 

     REFLEXÃO
    Através da leitura deste artigo, conseguimos ter uma maior e melhor noção acerca dos benefícios deste tipo de terapia e, principalmente, em crianças com PHDA.
    Como futuras psicomotricistas, temos interesse em perceber e saber os benefícios desta terapia, uma vez que o nosso enfoque vai ser melhorar o desenvolvimento e condições de vida dos nossos pacientes da melhor maneira possível e, como tal, é importante ter uma visão e conhecimento abrangente das terapias que nos vão permitir chegar aos nossos objetivos de uma maneira "rápida" e eficaz. Podemos não trabalhar diretamente com esta terapia, mas podemos acompanhar através da integração da equipa de terapia do indivíduo.
    É ainda do nosso interesse ter noção de como é que os cavalos, como seres irracionais, podem ser nossos co-terapeutas e ajudantes.

    Artigo:  Barbosa, G. e Munster, M. (2014). O Efeito de um Programa de Equoterapia no Desenvolvimento Psicomotor de Crianças com Indicativos de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Revista Brasileira de Educação Especial. 20(1). 69-84. Consultado em dezembro de 2016, no sítio: http://www.scielo.br/pdf/rbee/v20n1/a06v20n1.pdf

    Entidades importantes no âmbito das TAA

    Centro para o Conhecimento Animal

    O Centro para o Conhecimento Animal surge numa sociedade cada vez mais consciente e exigente em matérias relacionadas com o comportamento e bem-estar animal e tem como objetivo dar resposta a muitas questões que cada vez mais frequentemente se levantam.

    Visite: http://www.cpcanimal.pt/


    Pessoas e Animais. Uma Ligação para a Vida.

    Site onde é possível ficar a saber muito mais não só sobre as Terapias Assistidas por Animais, mas também relativamente a Atividades Assistidas por Animais.
    Visite: http://www.pravi.org/taa.php




    Ânimas - Associação Portuguesa para a Intervenção com Animais de Ajuda Social


    A Ânimas tem como principal objetivo partilhar os cães de serviço de forma a ajudar indivíduos com problemas a nível motor na realização das mais diversas tarefas, assim como promover programas de atividades assistidas por animais e ações de formação.








    Associações/Instituições que dispõem de Terapias Assistidas por Animais

    Academia Equestre João Cardiga

    Academia Equestre João Cardiga, é uma Instituição Particular de Solidariedade Social - IPSS, com sede nas instalações do Centro Hipico, com o mesmo nome, fundado em 1992. É uma instituição reconhecida e homolgada pelo Instituto do Desporto e Juventude, Federação Equestre Portuguesa e Escola Nacional de Equitação.
    Este local dispõe de Equitação com Fins Terapêuticos.
    Visite: http://www.academiaequestrecardiga.pt/ 

    CerciOeiras
    A CerciOeiras tem como missão integrar, educando, reabilitando e cuidando, ao longo da vida, os clientes e suas famílias, com excelência e sustentabilidade.
    Este local desenvolve atividades no âmbito da Equitação Terapêutica no picadeiro da Academia Equestre João Cardiga e dispõe ainda de Terapias Assistidas por Animais.
    Visite: http://www.cercioeiras.pt/

    Colégio As Descobertas
    Enquanto percurso educativo o nosso objectivo consiste em criar a igualdade de oportunidades para promover o acesso e sucesso educativo, estimular o intelecto e a formação pessoal e social, com a finalidade de fomentar a integração sócio-profissional de cidadãos autónomos, responsáveis e tolerantes.
    O nosso propósito, enquanto Centro de Actividades Ocupacionais “As Descobertas” é desenvolver actividades que promovam a capacitação e a aquisição de competências sociais necessárias para uma melhor inserção familiar e comunitária, assegurando condições de vida digna.
    O Colégio As Descobertas dispõe de Hipoterapia para os seus alunos.

    Associação Quinta Essência
    A missão da Associação QE é maximizar a autonomia e integração social de pessoas com atraso de desenvolvimento intelectual, maiores de 16 anos.
    A Associação QE procura conjugar as potencialidades de um modelo de socialização, no qual se destaca o contributo fundamental das famílias e das redes naturais e sociais de suporte, com a necessidade da criação de relações individualizadas e significativas, promotoras de desenvolvimento humano.
    O canil, a casa dos animais e a estufa constituem a Quinta, espaço terapêutico de contacto com a natureza que pretende complementar um desenvolvimento equilibrado dos seus alunos.
    Visite: http://quintaessencia.pt/index.php

    Associação Vinculum Animal
    A associação Vinculum Animal é constituída por uma equipa jovem, dinâmica e bastante motivada, formada por profissionais da área da saúde humana e animal. Têm como objetivo contribuir para a divulgação e desenvolvimento da relação estabelecida entre humanos e animais.
    Visite: http://www.vinculumanimal.pt/wp/ 






    Associação Hípica e Psicomotora de Viseu
    Fundada em 2014 para responder uma necessidade na área social, recreativa e terapêutica no Distrito de Viseu.
    Conta com uma equipa multidisciplinar nas vertentes equestre e terapêutica e destina-se a indivíduos com diversos tipos de deficiências ou necessidades educativas especiais, sejam elas crianças, adultos e idosos. Pretende estimular as potencialidades dos seus utentes através de um ambiente natural de cumplicidade entre cavalo-homem.  
    Visite: http://ahpv.pt/