Este capítulo pertence ao livro Animal-Assisted Therapy de Donald Altschiller, publicado em 2011. Seguidamente iremos apresentar o seu resumo e, de
seguida, uma reflexão sobre o mesmo.
Este capítulo faz ênfase aos problemas éticos associados às Terapias
Assistidas por Animais (TAA), não só relativamente aos resultados do contacto
entre a pessoa e o animal, mas também relativamente ao modo como este tipo de
terapia pode trazer consequências negativas para estes seres vivos.
O autor refere que a questão mais controversa dentro desta
temática, é o modo como os animais são tratados durante a realização destas
terapias. Sendo assim, o enfoque do capítulo não será apenas contestar o modo
como é feita a avaliação nas TAA, mas também as preocupações relativamente ao
modo como os cães que fazem visitas a instituições são tratados e, mais
especificamente, é abordada a controvérsia sobre a utilização de golfinhos em
âmbito terapêutico.
Quanto à avaliação nas TAA, existe uma quantidade relativa
de literatura que refere que este tipo de terapia tem efeitos benéficos não só
em termos fisiológicos mas também psicológicos, no entanto, têm vindo a ser
levantadas algumas questões quanto a este facto.
Beck e Katcher (2003) referem que as práticas desenvolvidas
nas TAA não apresentam objetivos que permitem uma orientação e, mesmo quando os
objetivos são devidamente identificados, o modo de avaliação não está bem
esclarecido. O autor do livro refere que este ceticismo pode estar associado ao
facto de grande parte dos estudos realizados neste âmbito apenas demonstram os
efeitos a curto-prazo. Por outro lado, outros autores levantam a questão de não
se ter em conta o companheirismo animal, no entanto, mesmo os estudos que têm
em consideração este fator levantam dúvidas a alguns profissionais de saúde.
Neste sentido, dois investigadores analisaram os estudos
realizados no âmbito da interação homem-animal e conseguiram concluir que é
bastante comum encontrar conclusões precipitadas relativamente à eficácia
destes programas terapêuticos quando o tipo de intervenção não foi de qualquer
forma avaliado. Para além disso, os investigadores encontraram também por
diversas vezes conclusões generalizadas. Por outro lado, vários autores têm
citado uma grande quantidade de estudos qualitativos que demonstram que as TAA
são efetivamente benéficas, não existindo assim um consenso relativamente a
esta temática.
Entrando na temática do modo como os animais são tratados, o
autor do livro não faz apenas referência às TAA mas também às Atividades Assistidas
por Animais (AAA). Um dos aspetos mais referidos dentro destes programas, é o modo
como estes podem induzir stress nos
animais levando a certas respostas tais como tremores, espasmos musculares e
produção excessiva de saliva, sendo bastante importante o terapeuta ter
conhecimento destes tipos de respostas.
Especificando para a questão dos cães que realizam visitas a
instituições, o autor refere que o seu bem-estar irá depender muito do ambiente
institucional e do conhecimento e experiência que o seu dono (e.g.: terapeuta)
tem. Alguns terapeutas referem que as visitas a instituições devem demorar no
máximo uma hora, no entanto, não existe um consenso quanto ao tempo necessário
para que a visita seja produtiva para a pessoa institucionalizada. Este é um
fator que pode levar ao stress do
animal, algo que muitas vezes não é percecionado pelo terapeuta, fazendo assim
com que a intervenção seja apenas benéfica para a pessoa.
O facto de as pessoas que vivem em instituições poderem
magoar os cães é também algo a ter em atenção. Os cães que trabalham com
pessoas com deficiência motora podem sofrer lesões físicas devido ao trabalho
que necessitam de desenvolver com estes (e.g.: ajudar o cliente a levantar ou
sentar, empurrar uma cadeira de rodas, etc.).
Apesar de os cães serem os animais mais predominantemente
usados neste contexto, em alguns casos são também utilizados gatos e pássaros,
os quais pedem cuidados redobrados devido ao facto de serem mais pequenos e,
consequentemente, mais frágeis. O transporte do animal para o local, é também
uma situação bastante geradora de stress
que deve ser tida em consideração. Igualmente, em alguns locais são utilizados
macacos, nomeadamente para auxiliar pessoas com deficiência motora. Neste caso,
já foram reportadas bastantes situações em que os dentes dos animais foram
removidos ou em que estes recebiam constantes choques elétricos de forma a não
se tornarem agressivos para com os clientes usufruidores da terapias.
O autor refere ainda que apesar de se acreditar que as TAA e
as AAA são benéficas tanto para a pessoa como para o animal, o que é certo é
que grande parte dos animais não corresponde ao que é desejado durante o treino
necessário para poderem participar neste tipo de terapia/atividades.
Por último, geralmente nas TAA são utilizados animais de
raça (e.g.: golden retrivier) devido ao facto de apresentarem características
que lhes permitem estar mais facilmente em contacto com outras pessoas. No entanto,
isto levanta questões éticas relativamente à procriação uma vez que procriar
dentro da mesma geração leva a problemas físicos, psicológicos e a uma maior
incidência de doenças nos animais.
Quanto à delfinoterapia, vários estudos têm referido os seus
efeitos benéficos em indivíduos com autismo ou com dificuldades intelectuais.
No entanto, esta é uma terapia que se tem demonstrado nada benéfica para os
golfinhos. O facto de estes estarem confinados a um tanque, despertou em muitos
casos comportamentos de agressividades e o facto de este ser um espaço bastante
reduzido, promover também uma grande variedade de infeções bacterianas. Este
espaço leva ainda a que os golfinhos percam as capacidades necessárias para
navegarem nas águas. Para além disso, uma autora ao analisar diferentes estudos
conseguiu perceber que a delfinoterapia não é mais eficaz no processo de
aprendizagem ou no desenvolvimento socioemocional das crianças, em comparação
com qualquer outra terapia.
Concluindo, a delfinoterapia apresenta efeitos negativos não
só para os animais mas também para as pessoas, efeitos estes que são difíceis
de ultrapassar.
REFLEXÃO
Relativamente à questão da avaliação nas TAA, consideramos que esta foi pertinente uma vez que este é um assunto que não foi abordado na disciplina (exceptuando para a Equitação com Fins Terapêuticos). Sendo a avaliação uma componente importante no âmbito da Psicomotricidade, torna-se igualmente importante perceber um pouco mais o modo como esta se processa neste tipo de terapias uma vez que estas podem ser utilizadas de forma complementar à terapia psicomotora.
Quanto a este assunto, a ideia que ficou foi a de que muitas vezes esta terapia não apresenta objetivos e, quando os apresenta, o modo como a avaliação é feita não está claro. Tendo em conta que os objetivos são uma componente essencial de qualquer intervenção pois permitem definir a intencionalidade terapêutica, achamos que nesta terapia isto é algo que deveria sempre ocorrer, sendo estes definidos de acordo com a pessoa e também de acordo com o animal a ser utilizado.
Relativamente aos efeitos das TAA, na aula foram apresentados diversos benefícios nas mais variadas populações (e.g.: depressão, crianças e adolescentes com PEA, gerontes, etc.) e com base em diversos estudos, indo assim ao encontro do que é referido no capítulo de que grande parte dos estudos apresentam resultados positivos quanto à implementação das TAA.
Considerámos este capítulo particularmente interessante devido ao facto de abordar as questões éticas associadas ao tratamento dos animais utilizados nas TAA. Tal como referido nas aulas sobre esta temática, o terapeuta não se deve preocupar unicamente com o bem-estar do cliente e com a promoção da sua funcionalidade e independência, sendo assim necessário ter também em conta o bem-estar do animal uma vez que este tem de ser um processo prazeroso para ambos.
Deste modo, analisando o capítulo, é possível perceber que o terapeuta durante as sessões deve analisar os comportamentos do animal, com o intuito de perceber se aquela é uma situação que lhe estará a aumentar os níveis de stress. Se for o caso, pensamos que talvez seja preferível afastar o animal do local e permitir que este faça algo que lhe permita sentir-se melhor (e.g.: passear, brincar, etc.), podendo este posteriormente voltar para o local. Se as respostas de stress persistirem, poderá ser melhor o terapeuta optar por escolher outro animal que se adapte melhor ao contexto da sessão, algo que também foi referido durante as aulas da disciplina.
Este artigo tocou ainda outro ponto interessante, nomeadamente o facto de neste tipo de terapias serem utilizados maioritariamente animais de raça. De acordo com o que aprendemos na aula sobre esta temática, a ideia de que os animais de raça são os únicos adequados para esta prática está errada, uma vez que, por exemplo, um cão rafeiro pode ser tão bom coterapeuta quanto um cão golden retrivier. De facto esta raça apresenta características próprias que fazem com estes animais sejam mais sociáveis, no entanto, desde que o cão rafeiro apresente essas mesmas características, este pode ser utilizado neste tipo de terapias. Este foi um aspeto que também já referido anteriormente (no post sobre as TAA) e que nós achamos pertinente salientar, uma vez que os cães rafeiros são muitas vezes excluídos e menos desejados por não serem considerados puros, no entanto, podem apresentar tantas capacidades como qualquer outro cão.
Por último, quanto à delfinoterapia, já estávamos à espera de ler este tipo de perspetiva uma vez que este foi um assunto abordado durante a aula. A população em geral tem a ideia de que os golfinhos são animais que desejam comunicar com os seres humanos e estar em contacto com estes, no entanto, tal como pudemos aprender, o facto de os golfinhos estarem em contacto com o ser humano é por si só uma situação geradora de stress. Adicionando as informações presentes no capítulo, o modo como os golfinhos são tratados é também malicioso para eles e, neste caso, também para os humanos uma vez que estes animais se podem tornar agressivos. Sendo assim, achamos que este tipo de terapia deve ser completamente evitado, devendo antes o terapeuta procurar outras soluções, dentro ou fora do âmbito das TAA.
Bibliografia: Altschiller, D. (2011). Animal-Assisted Therapy. Greenwood