quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Os benefícios da convivência com um gato num senhor com doença de Parkinson

De acordo com a Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson (APDP) (2012) a Doença de Parkinson trata-se de uma doença crónica com influência direta na motricidade do indivíduo, afetando assim os movimentos corporais e levando a tremores, rigidez, lentificação motora (bradicinésia), instabilidade postural e alterações na marcha.

Em estados iniciais é possível geralmente verificar um tremor ligeiro em uma mão, braço ou perna de apenas um lado do corpo, sendo que este tremor pode aumentar de intensidade se o membro em questão estiver tenso. À medida que a doença vai progredindo este tremor torna-se mais difuso, acabando por vir a afetar ambos os lados (APDP, 2012).

Para além dos sintomas anteriormente referidos, existem ainda outros que podem estar associados à doença, nomeadamente: depressão, ansiedade, perturbações no sono, perda de memória, dificuldades na fala, dores musculares, entre outros (APDP, 2012).

Sr. Vítor com o seu gato, Éder.
No dia 12 de Novembro tivemos oportunidade de estar em contacto com um senhor de nome Vítor (69 anos) que foi diagnosticado com Parkinson há 16 anos atrás. Há cerca de um mês adotou juntamente com a sua mulher um gato (de nome Éder) e, ao saber que o nosso tema era relativo às Terapias Assistidas por Animais, demonstrou-se de imediato disponível para dar o seu testemunho pois, apesar de não ser em âmbito de terapia, tanto ele como a sua mulher têm notado melhorias na sua doença desde que adotaram o animal de estimação.
O senhor referiu que sente estas melhorias a vários níveis, nomeadamente motor, linguagem e bem-estar consigo próprio, sendo isto que iremos aprofundar de seguida.
  • Benefícios a nível motor
De acordo com o testemunho dado pelo casal, desde que têm o Éder que o Sr. Vítor tem se tentado movimentar muito mais, não passando assim grande parte do seu dia sentado no sofá como tem sido habitual fazer nos últimos 16 anos a conviver com a doença. Esta alteração na dinâmica da casa do casal, fez com que o Sr. Vítor circule muito mais vezes pela casa atrás do seu animal de estimação, ajudando inclusivamente a fazer tudo o que é necessário para tratar dele (e.g. dar de comida, água, escová-lo, etc.).

Este tipo de atividade é bastante benéfica nesta população uma vez que, tal como é referido pela APDP, dois dos sintomas mais relevantes na Doença de Parkinson são a instabilidade postural e as alterações na marcha. Assim, ao realizar diferentes tipos de movimentos associados ao tratamento do seu gato e ao andar pela casa, está a trabalhar precisamente estes dois parâmetros em que apresenta mais dificuldades.

  • Benefícios ao nível da linguagem
Conforme a doença tem vindo a progredir, o Sr. Vítor tem vindo a apresentar cada vez mais dificuldades na iniciação e articulação das palavras, afetando assim diretamente a sua linguagem. O casal referiu que o facto de o Sr. Vítor não poder sair muitas vezes de casa para conviver com outras pessoas, associado ao facto de ser impossível para a sua mulher estar sempre em casa para lhe fazer companhia, são também fatores que impedem que esta capacidade seja mais trabalhada.

Também neste parâmetro o Éder acabou por trazer efeitos positivos para este senhor. Este refere que ao ter a companhia do animal em casa, este acaba por ser um recetor das diferentes histórias da sua vida que quer contar mas não tem ninguém a quem o possa fazer. Mesmo não obtendo qualquer tipo de resposta por parte do animal, ele sente que pode falar com ele e contar-lhe o que sente, proporcionando assim momentos de fala.

  • Benefícios ao nível do seu bem-estar
O benefício mais referido pelo casal, é o facto de o Éder ser uma companhia constante. Tendo em conta que por vezes é necessário o Sr. Vítor estar por algumas horas sozinho em casa, ao estar na companhia do seu animal de estimação sente que não está realmente sozinho e que na verdade tem "alguém" ali presente para ele e que, de certa forma, acaba por lhe prestar algum apoio emocional. Sendo assim, o gato poderá ser algo que evitará os sentimentos depressivos, os quais estão bastante associadas à Doença de Parkinson de acordo com a APDP (2012).

REFLEXÃO
Consideramos que realizar esta entrevista foi sem dúvida muito gratificante para nós. Apesar de, tal como já foi referido, o senhor não usufruir de uma terapia com o seu gato e este ser apenas um animal de estimação, a convivência com ele não deixa de ser de certa forma uma terapia, graças a todos os benefícios que a sua companhia lhe fornece.

Se apenas a convivência com um animal pode ser tão benéfica, sem dúvida que ter um animal como parceiro em âmbito terapêutico pode ser muito mais, tal como pudemos evidenciar na aula relativamente à temática das TAA. Nesta aula não falámos especificamente do Parkinson mas foi referido a importância das TAA na saúde mental, permitindo esta terapia reduzir significativamente os níveis de ansiedade e ainda melhorar o bem-estar emocional e a confiança em si próprio.

O facto de o animal estar com uma família onde é bem tratado e onde todas as suas necessidades são satisfeitas, faz com que esta interação não seja apenas positiva para a pessoa, mas também para o gato, algo que deve ser tido em consideração durante a aplicação de TAA's.

Esperamos ver cada vez mais casos destes, que demonstram uma parceria mutuamente positiva entre a pessoa e o seu animal de estimação. Neste sentido, poderia ser pertinente criar protocolos entre lares e associações de animais, permitindo assim aos animais estarem num local com mais condições e igualmente providenciar todos os efeitos positivos que os animais têm na vida de um geronte. 

NOTA: Foi nos dada a autorização para publicar a foto do Sr. Vítor no presente trabalho.

Bibliografia: Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson [APDP]. (2012). A Doença de Parkinson - Perguntas Frequentes. Retirado a 23 de Novembro de 2016 de http://www.parkinson.pt/?lop=conteudo&op=7a614fd06c325499f1680b9896beedeb&id=c3992e9a68c5ae12bd18488bc579b30d

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